quinta-feira, abril 03, 2008
Surpresa
quinta-feira, abril 03, 2008 |
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Blog do Beagle |
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Conheci um rapaz engraçadíssimo, alegre, cheio de vida e de novidades, ria de tudo e de todos e contagiava quem estivesse por perto. Os olhos sempre brilhantes e travessos olhavam o mundo pela ótica do homossexualismo assumido desde jovem.
Passou alguns meses fora do Brasil e foi despachado de volta pela empresa que comandava o intercâmbio e sua estadia com familia porque, seduziu ou foi seduzido pelo patriarca.
Quando retornou ao Brasil era outra pessoa. Vivia na noite, não trabalhava e tornou-se promíscuo. Não se cuidou, também, até encontrar Beto.
Um contraste, pois, enquanto um era moreno, extrovertido, alegre e irresponsável, o outro era loiro, imensos e tristes olhos azuis, tímido, de familia humilde e trabalhador.
Moraram juntos por alguns anos. Compraram coisas de casa e cuidavam de si. Eram felizes e Beto colocou o parceiro na linha. Acabaram-se as noitadas, as gandaias, a promiscuidade. A influência de Beto sobre ele foi enorme e até trabalho arrumou e acabou-se a gandaia e a promiscuidade das saunas e dos banheiros de casas noturnas. A vida seguia ao lado do enorme cachorro que eles criavam, quando a aids manifestou-se num deles. Foram morar com os pais do doente.
Durou dois anos a agonia. A familia tradicional, cheia de brios e preconceitos, não aceitava o relacionamento dos dois. Passou a culpar o loiro pela "praga" que atacara seu filho. Diziam que ele estava com câncer aos parentes e vizinhos. Suportava a presença de Beto na casa para cuidar do doente que perdera todas as forças e funções. Beto só teve certeza da doença que acometeu seu parceiro porque a médica o chamou e abriu as possibilidades de ele estar contaminado. A familia não queria que ele soubesse da verdade.
Na véspera de sua despedida ele agradeceu ao parceiro a paciência, a compreensão e a felicidade, perante seus familiares que, aproveitaram e despacharam Beto para fora de suas vidas, como um nada, um ninguém. Um irmão do parceiro montou guarda no quarto enquanto Beto retirava seus pertences pessoais e ninguém perguntou a quem pertenceriam os bens comprados por eles enquanto puderam viver sozinhos. Beto saiu dessa relação desempregado e com as roupas do corpo. Ninguém perguntou se ele precisaria de alguns daqueles bens para recomeçar sua vida.
Fevereiro/95, morte e enterro. Fim de uma vida nesse plano aos 30 anos de idade. Beto não foi convocado para as cerimônias fúnebres e nem os vizinhos que viram o falecido nascer.
Fevereiro/96 deu-se incêndio no apartamento da familia. Tudo queimado, desde obras de arte caras e raras de pintor primitivista brasileiro até móveis velhos e podres. De roupas de grife nos armários até comida sobre a mesa largada por causa da fumaça. Perdeu-se tudo! O que fora adquirido pela familia e o que fora adquirido pelos jovens separados pela aids.
Por que estou contado isso? Não sei, na realidade. Talvez para ilustrar sentimento profundo e gentil que unia dois homens adultos e homossexuais que eu encontrava na garagem do prédio em que morávamos, com o cachorro. Eram jovens, alegres e nunca soube dos apuros pelos quais Beto passou durante a doença de Renèe. Depois de 12 anos da morte, quando nos reencontramos, é que ele abriu a boca e contou o quanto sofreu. Emocionou-se e me cativou mais uma vez.
Gilberto Gil disse que "qualquer forma de amor vale a pena". Taí a prova. Beto está redimido, saudável e feliz.
Bjkª. Elza
Passou alguns meses fora do Brasil e foi despachado de volta pela empresa que comandava o intercâmbio e sua estadia com familia porque, seduziu ou foi seduzido pelo patriarca.
Quando retornou ao Brasil era outra pessoa. Vivia na noite, não trabalhava e tornou-se promíscuo. Não se cuidou, também, até encontrar Beto.
Um contraste, pois, enquanto um era moreno, extrovertido, alegre e irresponsável, o outro era loiro, imensos e tristes olhos azuis, tímido, de familia humilde e trabalhador.
Moraram juntos por alguns anos. Compraram coisas de casa e cuidavam de si. Eram felizes e Beto colocou o parceiro na linha. Acabaram-se as noitadas, as gandaias, a promiscuidade. A influência de Beto sobre ele foi enorme e até trabalho arrumou e acabou-se a gandaia e a promiscuidade das saunas e dos banheiros de casas noturnas. A vida seguia ao lado do enorme cachorro que eles criavam, quando a aids manifestou-se num deles. Foram morar com os pais do doente.
Durou dois anos a agonia. A familia tradicional, cheia de brios e preconceitos, não aceitava o relacionamento dos dois. Passou a culpar o loiro pela "praga" que atacara seu filho. Diziam que ele estava com câncer aos parentes e vizinhos. Suportava a presença de Beto na casa para cuidar do doente que perdera todas as forças e funções. Beto só teve certeza da doença que acometeu seu parceiro porque a médica o chamou e abriu as possibilidades de ele estar contaminado. A familia não queria que ele soubesse da verdade.
Na véspera de sua despedida ele agradeceu ao parceiro a paciência, a compreensão e a felicidade, perante seus familiares que, aproveitaram e despacharam Beto para fora de suas vidas, como um nada, um ninguém. Um irmão do parceiro montou guarda no quarto enquanto Beto retirava seus pertences pessoais e ninguém perguntou a quem pertenceriam os bens comprados por eles enquanto puderam viver sozinhos. Beto saiu dessa relação desempregado e com as roupas do corpo. Ninguém perguntou se ele precisaria de alguns daqueles bens para recomeçar sua vida.
Fevereiro/95, morte e enterro. Fim de uma vida nesse plano aos 30 anos de idade. Beto não foi convocado para as cerimônias fúnebres e nem os vizinhos que viram o falecido nascer.
Fevereiro/96 deu-se incêndio no apartamento da familia. Tudo queimado, desde obras de arte caras e raras de pintor primitivista brasileiro até móveis velhos e podres. De roupas de grife nos armários até comida sobre a mesa largada por causa da fumaça. Perdeu-se tudo! O que fora adquirido pela familia e o que fora adquirido pelos jovens separados pela aids.
Familia indigna com o parceiro de seu filho e com o vizinho do apartamento do andar inferior que foi invadido pela água e fuligem do incêndio criminoso ateado pelos jovens netos do casal.
Encontrei Beto hoje. Bonito, arrumado, saudável e feliz com outro parceiro numa relação de 10 anos. Nós nos reconhecemos e recebi abraços e beijos de carinho como se tempo não existisse entre nossos últimos encontros.
Ele me disse que reconstruiu a vida, tem sua casa e nos finais de semana vai ao sitio onde tem 6 cães e 9 gatos, piscina e amigos. É amado e respeitado pela familia de seu parceiro. Falamos muito no Renèe e recordamos episódios divertidos e também dos não tão felizes, é claro.Por que estou contado isso? Não sei, na realidade. Talvez para ilustrar sentimento profundo e gentil que unia dois homens adultos e homossexuais que eu encontrava na garagem do prédio em que morávamos, com o cachorro. Eram jovens, alegres e nunca soube dos apuros pelos quais Beto passou durante a doença de Renèe. Depois de 12 anos da morte, quando nos reencontramos, é que ele abriu a boca e contou o quanto sofreu. Emocionou-se e me cativou mais uma vez.
Gilberto Gil disse que "qualquer forma de amor vale a pena". Taí a prova. Beto está redimido, saudável e feliz.
Bjkª. Elza
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Elza Maria sempre em busca de respostas. Paradoxal, curiosa, inteligente, crítica, observadora, sentimental, habilidosa, amorosa, sensível, disciplinada e um montão de outras coisas. Ser humano normal, comum, mediano, mas que gosta de escrever e está no quarto blog.
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5 comentários:
Elza,respeito é bom e todo mundo gosta,concorda???E pessoas adultas precisam ser respeitadas nas escolhas que fazem!!!
Beijos e parabéns pelo blog!!!
Te vi lá na Rosamaria, perguntando o que é "coisquirídia" e vim conhecer teu blog!
Com certeza ela virá te explicar...
O que sei é que gostei muito de te ler. Este post, especialmente, me emocionou...
Olá, Luciana, obrigada pela visita e pelo elogio. Querendo voltar. fique a cômodo. A casa está sempre aberta. Bjkª. Elza
Ana, obrigada pela visita e pelo elogio. Volte quando quiser. De vez em quando conto coisas do passado, muitas vezes me perco ao falar sobre meus bichos ... vou postando o que me dá vontade, sem direção e sem objetivo. Bjkª. Elza
Elza
Amei essa tua frase: "Minha imagem no espelho não combina com a da alma. A do espelho já foi jovial e hoje, a da alma o é."
Eu tô nessa! hehehe
Obrigada pela visita, espero que voltes.
COSQUIRÍDIA quer dizer COISA QUERIDA e uso sempre para as pessoas que eu quero bem.
Como a 'cosquirídia' da Ana aí acima,gostei do teu blog e me emocionei com a história que contaste.
Rosamaria, volte quando quiser.As portas estão abertas. Bjkª. Elza
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