quarta-feira, maio 20, 2009
Claudemira e o túmulo
quarta-feira, maio 20, 2009 |
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Blog do Beagle |
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- Chame a policia. O carro funerário foi roubado! Depois desse alarme o motorista soltou todos os palavrões que conhecia e ainda reclamou com Claudemira que o colocara nessa encrenca.
Claudemira nem chorou. Voltou para dentro do bar, pediu uma cerveja e esperou o desenrolar dos acontecimentos. Sua amiga Creusa estava dentro da urna funerária sendo do transportada para a última morada.
- Quero inaugurar o túmulo que herdei e me acontece isso. Faz anos que não piso na minha cidade, resmungou entre copos de cerveja a mulada de peitos fartos, cabelos indomados e inteligência curta.
- Isso é coisa do Zé do Bode, só pode ser. Ele andava por aqui antesdonte, disse o empregado do bar. Ele adora essas coisas de assustar o povo de fora. Pode prucurá que oceis acha ele e o carro de defunto.
A policia chegou, fez seu serviço e todos sairam em busca do carro de defunto. Rádio foi passado para a policia rodoviária e o alerta geral estava dado. Nenhuma noticia do carro ou da urna chegavam. O tempo passava, a tarde caía, e a cerveja rolava.
- Dona, a senhora entorna bem a cerveja. Tou de oio faz um tempão, disse o Peninha, outro empregado do bar.
- Perdi minha amiga. Bebo para não chorar, resmungou Claudemira.
- Perdeu, como?
- Morreu e o corpo sumiu. O carro funerário foi roubado. Quem pode querer um carro de de defunto?
- Eita gente! Tem um carro ali no garpão. Será doceis? Vi o Zé do Bode puxar o carro prá lá.
A correria foi enorme. O carro encontrado incólume. Todos os documentos no lugare a urna intacta.
- Linche esse Zé do Bode! Avise a polícia para dar baixa no BO porque nós temos que seguir viagem e não queremos ser parados nos postos policiais, disse o motorista. Vamos ver se agora chegamos ao nosso destino. Já estamos com 4 horas de atraso e tenho que devolver esse carro para o Serviço Funerário da Capital.
Seguiram estrada adiante com Claudemira roncando ao lado do condutor. A cerveja tem efeitos drásticos não apenas na sonolência que causa, mas na bexiga do bebedor.
- Pára aí moço, não aguento mais!
- Moça, aqui não tem onde ...
- Eu me viro, mas páre aí!
Esse diálogo não foi o único até chegarem ao local do enterro. Eles conseguiram se desentender diversas vezes, não apenas por causa da bexiga da Claudemira, mas por todos os motivos imagináveis, inclusive sono e fome.
Claro que já passara da hora de entregar a urna pois já eram mais de 18 horas quando aportaram no cemitério. O enterro precisou ficar para o dia seguinte. O motorista descarregou o caixão no velório municipal e deixou Claudemira numa pensão barata. Dalí para frente era com ela.
- Se quiser tem uma cama de cima no beliche do último quarto, disse a dona da pensão. Não tem café da manhã, não. Banheiro no fundo do corredor com banho frio.
O cemitério era pequeno, pobre, feio, sem nenhuma árvore e em cada túmulo flores de plástico, todas iguais. O calor é tão grande que só as flores de plástico resistem.
- Dona, a Senhora não pode enterrar essa defunta aqui nesse túmulo, não. Ele está lotado. Tem 4 gavetas e todas ocupadas. Além disso esse túmulo é da Prefeitura. A Senhora não pode exumar os corpos, não.
- Como?! Tem alguma coisa errada. Eu recebi esse túmulo como herança da minha tia. Agora eu tenho onde cair morta! Vim inaugurar meu túmulo! Veja a carta que me mandaram.
A confusão foi armada, por que, Claudemira, de fato não recebera aquela herança e o corpo da Creusa precisa de descanso. Depois de horas de conversas e choros e desesperos, Claudemira cedeu e deixou o corpo da amiga ser colocado nos túmulos provisórios destinados aos indigentes já que não tinha disponibilidade financeira para comprar uma campa e nem interesse. Já gastara muito mais do que poderia para transportar o corpo.
Nem flores e nem velas. Apenas Claudemira e os coveiros deixaram a urna com Creusa. Findo o serviço, Claudemira virou as costas e voltou para casa.
- Gente, viagem tranquila, motorista simpático. Fiquei num hotelzinho simples mas limpinho e com boa comida. O cemitério é muito lindo e bem tratado, cheio de flores e árvores. Uma beleza! A Creusa está muito bem acomodada. Quase tirei fotos, mas não achei que era próprio. Juntou gente para ver o enterro da mulher que veio de fora.
Bjkª. Elza
Claudemira nem chorou. Voltou para dentro do bar, pediu uma cerveja e esperou o desenrolar dos acontecimentos. Sua amiga Creusa estava dentro da urna funerária sendo do transportada para a última morada.
- Quero inaugurar o túmulo que herdei e me acontece isso. Faz anos que não piso na minha cidade, resmungou entre copos de cerveja a mulada de peitos fartos, cabelos indomados e inteligência curta.
- Isso é coisa do Zé do Bode, só pode ser. Ele andava por aqui antesdonte, disse o empregado do bar. Ele adora essas coisas de assustar o povo de fora. Pode prucurá que oceis acha ele e o carro de defunto.
A policia chegou, fez seu serviço e todos sairam em busca do carro de defunto. Rádio foi passado para a policia rodoviária e o alerta geral estava dado. Nenhuma noticia do carro ou da urna chegavam. O tempo passava, a tarde caía, e a cerveja rolava.
- Dona, a senhora entorna bem a cerveja. Tou de oio faz um tempão, disse o Peninha, outro empregado do bar.
- Perdi minha amiga. Bebo para não chorar, resmungou Claudemira.
- Perdeu, como?
- Morreu e o corpo sumiu. O carro funerário foi roubado. Quem pode querer um carro de de defunto?
- Eita gente! Tem um carro ali no garpão. Será doceis? Vi o Zé do Bode puxar o carro prá lá.
A correria foi enorme. O carro encontrado incólume. Todos os documentos no lugare a urna intacta.
- Linche esse Zé do Bode! Avise a polícia para dar baixa no BO porque nós temos que seguir viagem e não queremos ser parados nos postos policiais, disse o motorista. Vamos ver se agora chegamos ao nosso destino. Já estamos com 4 horas de atraso e tenho que devolver esse carro para o Serviço Funerário da Capital.
Seguiram estrada adiante com Claudemira roncando ao lado do condutor. A cerveja tem efeitos drásticos não apenas na sonolência que causa, mas na bexiga do bebedor.
- Pára aí moço, não aguento mais!
- Moça, aqui não tem onde ...
- Eu me viro, mas páre aí!
Esse diálogo não foi o único até chegarem ao local do enterro. Eles conseguiram se desentender diversas vezes, não apenas por causa da bexiga da Claudemira, mas por todos os motivos imagináveis, inclusive sono e fome.
Claro que já passara da hora de entregar a urna pois já eram mais de 18 horas quando aportaram no cemitério. O enterro precisou ficar para o dia seguinte. O motorista descarregou o caixão no velório municipal e deixou Claudemira numa pensão barata. Dalí para frente era com ela.
- Se quiser tem uma cama de cima no beliche do último quarto, disse a dona da pensão. Não tem café da manhã, não. Banheiro no fundo do corredor com banho frio.
O cemitério era pequeno, pobre, feio, sem nenhuma árvore e em cada túmulo flores de plástico, todas iguais. O calor é tão grande que só as flores de plástico resistem.
- Dona, a Senhora não pode enterrar essa defunta aqui nesse túmulo, não. Ele está lotado. Tem 4 gavetas e todas ocupadas. Além disso esse túmulo é da Prefeitura. A Senhora não pode exumar os corpos, não.
- Como?! Tem alguma coisa errada. Eu recebi esse túmulo como herança da minha tia. Agora eu tenho onde cair morta! Vim inaugurar meu túmulo! Veja a carta que me mandaram.
A confusão foi armada, por que, Claudemira, de fato não recebera aquela herança e o corpo da Creusa precisa de descanso. Depois de horas de conversas e choros e desesperos, Claudemira cedeu e deixou o corpo da amiga ser colocado nos túmulos provisórios destinados aos indigentes já que não tinha disponibilidade financeira para comprar uma campa e nem interesse. Já gastara muito mais do que poderia para transportar o corpo.
Nem flores e nem velas. Apenas Claudemira e os coveiros deixaram a urna com Creusa. Findo o serviço, Claudemira virou as costas e voltou para casa.
- Gente, viagem tranquila, motorista simpático. Fiquei num hotelzinho simples mas limpinho e com boa comida. O cemitério é muito lindo e bem tratado, cheio de flores e árvores. Uma beleza! A Creusa está muito bem acomodada. Quase tirei fotos, mas não achei que era próprio. Juntou gente para ver o enterro da mulher que veio de fora.
Bjkª. Elza
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Elza Maria sempre em busca de respostas. Paradoxal, curiosa, inteligente, crítica, observadora, sentimental, habilidosa, amorosa, sensível, disciplinada e um montão de outras coisas. Ser humano normal, comum, mediano, mas que gosta de escrever e está no quarto blog.
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7 comentários:
Que viagem...
Na vida, como na morte, pode-se dar a versão dos fatos que nos aprouver. Pelo menos nos casos sem testemunhas!
Vc tem o dom de retratar a miséria humana através dos detalhes aparentemente sem importância.
Observadora da vida, como ela é...
Como dizia um político mineiro: "Mais importante que o fato é a versão do fato". Concordo em gênero, número e grau, porém com as devidas com ressalvas.
Ana, adoro contar histórias. Obrigada por suas palavras. Bjkªssssss Elza
Claudio, kakakak adorei seu comentário dubio e embíguo. Bjkªsssssss Elza
Nossa, coitada da Creuza e da Claudemira....Que situaçao!
Bjs
Claudemira não se perta, Meire. Ela topa tudo e todos. Bjkª. Elza
E assim vão vivendo seus sonhos e desencantos, sabem levar a vida.
Ótimo conto.
lindo dia querida
beijos
Olá, Marcia, seja bem vinda mais uma vez. Obrigada pelo elogio. Bj. Elza
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